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Uma a cada oito pessoas no mundo ainda passa fome, alerta estudo da ONU

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Diante de “oportunidades técnicas e econômicas sem precedentes” no mundo de hoje, três agências da ONU afirmaram ser “totalmente inaceitável” que mais de 100 milhões de crianças menores de cinco anos estejam abaixo do peso. No total, 870 milhões de pessoas sofrem de desnutrição crônica em todo o mundo.










Quase 870 milhões de pessoas – ou uma em cada oito – estão sofrendo de desnutrição crônica, deacordo comum novo relatório das Nações Unidasdivulgado hoje (9). O dado representa uma queda acentuada no número de pessoas subnutridas nas últimos duas décadas, mas o estudo adverte que a ação imediata ainda é necessária para combater a fome, em particular nos países emdesenvolvimento.


O “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo 2012” (SOFI, na sigla em inglês) – publicado em conjunto pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) – revela que o número de pessoas passando fome caiu mais do que o esperado entre 1990 e 2007. As novas estimativas são baseadas em uma metodologia aperfeiçoada e dados mais completos para as duas últimas décadas, afirmaram as agências em um comunicado à imprensa.


Entre os períodos de 1990-1992 e 2010-2012, o número de pessoas com fome diminuiu em 132 milhões, ou de 18,6% para 12,5% da população mundial. No entanto, desde 2007 o progresso global na redução da fome diminuiu e se estabilizou, o que obriga os países a tomar medidas adequadas para que possam cumprir o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) de reduzir a proporção de pessoas que sofrem de fome pela metade até 2015, aponta a relatório.


“Se a redução da fome média anual dos últimos 20 anos continuar até 2015, o percentual de desnutrição nospaíses em desenvolvimento atingiria 12,5% – ainda acima da meta dos ODM de 11,6%, mas muito mais perto do que o estimado anteriormente”, diz o relatório.


Os números revistos de fome divulgados hoje utilizam informações atualizadas sobre a população, abastecimento e perdas de alimentos, os requisitos de energia das dietas e outros fatores. Os números também refletem uma melhor estimativa de distribuição de alimentos dentro dos países.
Brasil registra avanços


Pelos dados do relatório, o Brasil conseguiu reduzir o percentual de subnutridos de 14,9%, no período de 1990 a 1992, para 6,9%, nos anos de 2010 a 2012. No país, cerca de 13 milhões de pessoas passam fome ou sofrem com desnutrição. Os programas sociais desenvolvidos pelo Governo brasileiro em parceria com os governos estaduais e municipais, além da iniciativa privada, foram elogiados no documento.


O Programa Bolsa Família é uma referência, segundo o relatório. Para os especialistas, o Bolsa Família é um instrumento positivo para promover a capacitação econômica das comunidades. Há elogios também ao sistema adotado pela prefeitura de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, de combate à fome na periferia da cidade.
‘Mundo tem o conhecimento e os meios para eliminar a fome’


“No mundo de hoje de oportunidades técnicas e econômicas sem precedentes, achamos totalmente inaceitável que mais de 100 milhões de crianças menores de cinco anos estejam abaixo do peso e, portanto, incapazes de realizar o seu potencial humano e socioeconômico, e inaceitável que a desnutrição infantil seja uma causa de morte para mais de 2,5 milhões de crianças a cada ano”, diz o prefácio do relatório, escrito pelo Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva; pelo Presidente do FIDA, Kanayo F. Nwanze; e pela Diretora Executiva do PMA, Ertharin Cousin.


“Observamos com especial preocupação que a recuperação da economia mundial a partir da recente crise financeira global permanece frágil. Nós fazemos, no entanto, um apelo à comunidade internacional para fazer esforços extras para ajudar os mais pobres na realização do seu direito humano básico à alimentação adequada. O mundo tem o conhecimento e os meios para eliminar todas as formas de insegurança alimentar e desnutrição”, afirmaram.


As novas estimativas sugerem que o aumento da fome no período de 2007 a 2010 foi menos grave do que se pensava, e que a crise econômica de 2008-2009 não causou uma desaceleração econômica imediata em muitos países em desenvolvimento, como se temia que pudesse acontecer. Muitos governos também conseguiram amortecer o choque e proteger as populações vulneráveis dos efeitos dos preços dos alimentos.


O relatório observa que a metodologia não captura os efeitos de curto prazo dos surtos de preços dos alimentos e de outros choques econômicos, acrescentando que a FAO está trabalhando para desenvolver um conjunto mais amplo de indicadores para captar melhor a qualidade da dieta e outras dimensões da segurança alimentar.


A grande maioria dos famintos – 852 milhões – vive em países em desenvolvimento da Ásia e da África. Embora o número de pessoas subnutridas tenha diminuído quase 30% na Ásia e no Pacífico durante as duas últimas décadas, a África experimentou um aumento de 175 para 239 milhões de pessoas durante o mesmo período.


O relatório sugere uma abordagem em duas vias com base no suporte para o crescimento econômico, incluindo o crescimento da agricultura, envolvendo pequenos produtores e redes de segurança para os mais vulneráveis. Além disso, pede maior prioridade a ser dada para a obtenção de qualidade nutricional, de modo a prevenir a desnutrição coexistente com a obesidade e doenças não transmissíveis.
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