Quase 870 milhões de pessoas – ou uma em cada oito – estão sofrendo de desnutrição crônica, deacordo comum novo relatório das Nações Unidasdivulgado hoje (9). O dado representa uma queda acentuada no número de pessoas subnutridas nas últimos duas décadas, mas o estudo adverte que a ação imediata ainda é necessária para combater a fome, em particular nos países emdesenvolvimento.
O “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo 2012” (SOFI, na sigla em inglês) – publicado em conjunto pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) – revela que o número de pessoas passando fome caiu mais do que o esperado entre 1990 e 2007. As novas estimativas são baseadas em uma metodologia aperfeiçoada e dados mais completos para as duas últimas décadas, afirmaram as agências em um comunicado à imprensa.
Entre os períodos de 1990-1992 e 2010-2012, o número de pessoas com fome diminuiu em 132 milhões, ou de 18,6% para 12,5% da população mundial. No entanto, desde 2007 o progresso global na redução da fome diminuiu e se estabilizou, o que obriga os países a tomar medidas adequadas para que possam cumprir o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) de reduzir a proporção de pessoas que sofrem de fome pela metade até 2015, aponta a relatório.
“Se a redução da fome média anual dos últimos 20 anos continuar até 2015, o percentual de desnutrição nospaíses em desenvolvimento atingiria 12,5% – ainda acima da meta dos ODM de 11,6%, mas muito mais perto do que o estimado anteriormente”, diz o relatório.
Os números revistos de fome divulgados hoje utilizam informações atualizadas sobre a população, abastecimento e perdas de alimentos, os requisitos de energia das dietas e outros fatores. Os números também refletem uma melhor estimativa de distribuição de alimentos dentro dos países.
Brasil registra avanços
Pelos dados do relatório, o Brasil conseguiu reduzir o percentual de subnutridos de 14,9%, no período de 1990 a 1992, para 6,9%, nos anos de 2010 a 2012. No país, cerca de 13 milhões de pessoas passam fome ou sofrem com desnutrição. Os programas sociais desenvolvidos pelo Governo brasileiro em parceria com os governos estaduais e municipais, além da iniciativa privada, foram elogiados no documento.
O Programa Bolsa Família é uma referência, segundo o relatório. Para os especialistas, o Bolsa Família é um instrumento positivo para promover a capacitação econômica das comunidades. Há elogios também ao sistema adotado pela prefeitura de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, de combate à fome na periferia da cidade.
‘Mundo tem o conhecimento e os meios para eliminar a fome’
“No mundo de hoje de oportunidades técnicas e econômicas sem precedentes, achamos totalmente inaceitável que mais de 100 milhões de crianças menores de cinco anos estejam abaixo do peso e, portanto, incapazes de realizar o seu potencial humano e socioeconômico, e inaceitável que a desnutrição infantil seja uma causa de morte para mais de 2,5 milhões de crianças a cada ano”, diz o prefácio do relatório, escrito pelo Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva; pelo Presidente do FIDA, Kanayo F. Nwanze; e pela Diretora Executiva do PMA, Ertharin Cousin.
“Observamos com especial preocupação que a recuperação da economia mundial a partir da recente crise financeira global permanece frágil. Nós fazemos, no entanto, um apelo à comunidade internacional para fazer esforços extras para ajudar os mais pobres na realização do seu direito humano básico à alimentação adequada. O mundo tem o conhecimento e os meios para eliminar todas as formas de insegurança alimentar e desnutrição”, afirmaram.
As novas estimativas sugerem que o aumento da fome no período de 2007 a 2010 foi menos grave do que se pensava, e que a crise econômica de 2008-2009 não causou uma desaceleração econômica imediata em muitos países em desenvolvimento, como se temia que pudesse acontecer. Muitos governos também conseguiram amortecer o choque e proteger as populações vulneráveis dos efeitos dos preços dos alimentos.
O relatório observa que a metodologia não captura os efeitos de curto prazo dos surtos de preços dos alimentos e de outros choques econômicos, acrescentando que a FAO está trabalhando para desenvolver um conjunto mais amplo de indicadores para captar melhor a qualidade da dieta e outras dimensões da segurança alimentar.
A grande maioria dos famintos – 852 milhões – vive em países em desenvolvimento da Ásia e da África. Embora o número de pessoas subnutridas tenha diminuído quase 30% na Ásia e no Pacífico durante as duas últimas décadas, a África experimentou um aumento de 175 para 239 milhões de pessoas durante o mesmo período.
O relatório sugere uma abordagem em duas vias com base no suporte para o crescimento econômico, incluindo o crescimento da agricultura, envolvendo pequenos produtores e redes de segurança para os mais vulneráveis. Além disso, pede maior prioridade a ser dada para a obtenção de qualidade nutricional, de modo a prevenir a desnutrição coexistente com a obesidade e doenças não transmissíveis.